Ex-craque de Fla e Real vira agenciador de carreira de jogador e fala da trajetória vitoriosa no futebol, além da frustrante volta à Gávea em 2006
Desde que Zico saiu do Flamengo, em 1989, todo jogador de boa categoria revelado pelo clube é imediatamente comparado ao Galinho. Um deles foi Sávio, no início da década de 90. E não há como negar que o Anjo Louro - como gostava de ser chamado - conseguiu ser ídolo da maior torcida do Brasil. O amor pela combinação rubro-negra persiste e vem acompanhado da desilusão de não ter chegado aos 100 gols pelo clube do coração (fez 95 no total), meta que tentou alcançar no retorno à Gávea, em 2006. Mas as coisas não saíram do jeito imaginado pela torcida e pelo próprio jogador.
Sávio encerrou a carreira profissional no fim de 2010, no Avaí, e agora, aos 38 anos, encabeça um projeto que agencia jogadores e tem por finalidade manter a estabilidade financeira desses atletas, principalmente quando os mesmos resolvem pendurar as chuteiras. Outro ponto é adaptar essa metodologia aos próprios clubes brasileiros, que normalmente convivem com inúmeros problemas ao fim de cada mês. Para isso, o ex-jogador aprimorou o lado empresário com cursos de gestão esportiva e marketing desde a época em que atuava no Real Madrid.
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O currículo invejável de Sávio dispõe de três títulos da Liga dos Campeões da Europa, uma Liga Espanhola, um Mundial Interclubes, uma medalha de bronze olímpica (1996) e outras tantas conquistas. Pelo Flamengo, os troféus foram mais escassos - apenas o Carioca e a Copa Ouro Sul-Americana, ambos em 1996. Talvez por isso a dupla com Romário não tenha tido o reconhecimento que os gols de ambos sugeriam. Aliás, Sávio faz questão de esclarecer que nunca teve mau relacionamento com o Baixinho, o que era muito comentado na época por conta de um entrevero entre os dois na China, em uma excursão feita pelo Rubro-Negro em 1995. Além disso, lamentou o fato de o clube carioca ter falhado em horas capitais no ano em que completou 100 anos.

- Aquilo foi apenas uma discussão de jogo. Faz parte do futebol. Houve exagero em cima daquele episódio. Não sei quem inventou que ele me agrediu. Posso dizer que formamos uma grande dupla e foi um privilégio atuar ao lado dele. A gente fazia mais gols do que quase todos os clubes. Mas, por infelicidade, não conquistamos o que poderíamos no ano do centenário do clube. Tomamos um gol de barriga no fim (do Campeonato Carioca, contra o Fluminense). Na Supercopa, ganhamos sete dos oito jogos que fizemos e perdemos o título pelo saldo de gols na decisão contra o Independiente. E na Copa do Brasil, fomos eliminados na semifinal num jogo em que saí todo quebrado. Os caras do Grêmio tinham que sair algemados de tanto que bateram (relembre, no vídeo acima, a vitória de 2 a 1 no primeiro duelo com os gaúchos, com dois gols de Sávio). Em 1996, pelo menos, conseguimos o Estadual de forma invicta. Fiquei feliz ao ver uma entrevista do Romário no fim da carreira em que ele me citou como uma das grandes duplas que teve. Além de mim, falou de Bebeto, Euller e Laudrup. Eu corria muito para ele. E dar a bola para ele era garantia de gol - frisou Sávio.
Ao falar de Flamengo, Sávio também demonstrou preocupação em relação à falta de boas revelações no futebol do clube nos últimos anos e ao "descumprimento" de uma máxima que faz parte da história rubro-negra, a de revelar craques. Para ele, muitos jogadores da base são queimados de maneira precoce e acabam sucumbindo às chances que têm posteriormente. Em meio a um caminhão de desconfiança, Sávio vê uma luz no fim do túnel chamada Adryan, o único jovem jogador do time atual que enche os olhos do Anjo Louro.
- Não tenho acompanhado o trabalho. O fato é que quando cheguei ao Flamengo, bem novo, logo me chamou a atenção a frase "Craque, o Flamengo faz em casa!". O clube sempre será associado a essa frase. Mas atualmente são poucos que dão certo no time profissional. Nos últimos anos, podemos citar apenas Adriano, Juan e Julio Cesar como jogadores de alto nível revelados no clube. O Renato Augusto também é bom jogador, mas não é do nível desses. Isso é pouco. O Adryan é um jogador que gera uma boa expectativa. Parece ter um futuro brilhante, mas tem muito a aprender ainda. Desses novos, ele é o jogador no qual mais aposto como possível craque - declarou Sávio, que chegou a pegar banco na campanha do título de 1992 (contra Fluminense e Sport) e admite que sua transição para a equipe profissional foi a melhor possível, já que só foi efetivado no time de cima dois anos depois e pôde aprender muito com a experiência de jogadores como Júnior, Gilmar e Gottardo neste período .
Transação milionária
- Não tenho acompanhado o trabalho. O fato é que quando cheguei ao Flamengo, bem novo, logo me chamou a atenção a frase "Craque, o Flamengo faz em casa!". O clube sempre será associado a essa frase. Mas atualmente são poucos que dão certo no time profissional. Nos últimos anos, podemos citar apenas Adriano, Juan e Julio Cesar como jogadores de alto nível revelados no clube. O Renato Augusto também é bom jogador, mas não é do nível desses. Isso é pouco. O Adryan é um jogador que gera uma boa expectativa. Parece ter um futuro brilhante, mas tem muito a aprender ainda. Desses novos, ele é o jogador no qual mais aposto como possível craque - declarou Sávio, que chegou a pegar banco na campanha do título de 1992 (contra Fluminense e Sport) e admite que sua transição para a equipe profissional foi a melhor possível, já que só foi efetivado no time de cima dois anos depois e pôde aprender muito com a experiência de jogadores como Júnior, Gilmar e Gottardo neste período .
Transação milionária
Depois de uma excursão com o Flamengo pela Espanha em 1997, o talento de Sávio chamou a atenção de três clubes: Real Madrid, Valencia e Deportivo La Coruña. O destino foi o mais generoso possível com o jogador, que se transferiu para o gigante da capital espanhola no início do ano seguinte, naquela que foi uma das maiores transações da história rubro-negra - algo em torno de US$ 10 milhões, além da transferência para a Gávea de Zé Roberto e Rodrigo Fabri, que pertenciam ao Real.
Apesar da grandeza do clube espanhol, a adaptação foi facilitada pela rápida sintonia com a exigente torcida merengue. Empatia que chegou a espantar o próprio brasileiro, que pouco tinha feito para receber tanto carinho e apoio. Sávio faz questão de recordar uma ocasião inesquecível neste casamento com os fãs.
- Não sei a razão, mas a torcida gostava muito de mim. Consegui conquistá-la logo de cara. E teve um episódio marcante para isso. Entrei faltando 20 minutos em um jogo que estava 2 a 1 para o La Coruña. Fiz uma boa jogada e servi o Morientes para ele empatar a partida. Pouco depois, tivemos um pênalti a favor e eu perdi. E acabou 2 a 2. Chorei depois do jogo. Fiquei arrasado. No jogo seguinte, em casa, eu estava no banco e fomos para o intervalo no 0 a 0. A torcida levantou e gritou o meu nome. Entrei, fiz um gol e vencemos o Sporting Gijón por 3 a 0. Ali se concretizou a minha relação com a torcida - relembrou Sávio, que conquistou três Ligas dos Campeões pelo Real, que, coincidentemente, não fatura essa competição desde a saída do ex-jogador brasileiro.
Fla-Madrid x Vasco
Mesmo sendo jogador do Real Madrid, a ligação com o Flamengo voltou à tona logo no fim de 1998. Tudo porque o Vasco, grande rival rubro-negro, seria o adversário do clube espanhol na decisão do Mundial Interclubes, no Japão. A presença de Sávio do lado contrário ao cruz-maltino fez com que os flamenguistas idealizassem uma pseudo-união com o Real Madrid. A torcida Fla-Madrid foi criada para secar os vascaínos.
Apesar da grandeza do clube espanhol, a adaptação foi facilitada pela rápida sintonia com a exigente torcida merengue. Empatia que chegou a espantar o próprio brasileiro, que pouco tinha feito para receber tanto carinho e apoio. Sávio faz questão de recordar uma ocasião inesquecível neste casamento com os fãs.
- Não sei a razão, mas a torcida gostava muito de mim. Consegui conquistá-la logo de cara. E teve um episódio marcante para isso. Entrei faltando 20 minutos em um jogo que estava 2 a 1 para o La Coruña. Fiz uma boa jogada e servi o Morientes para ele empatar a partida. Pouco depois, tivemos um pênalti a favor e eu perdi. E acabou 2 a 2. Chorei depois do jogo. Fiquei arrasado. No jogo seguinte, em casa, eu estava no banco e fomos para o intervalo no 0 a 0. A torcida levantou e gritou o meu nome. Entrei, fiz um gol e vencemos o Sporting Gijón por 3 a 0. Ali se concretizou a minha relação com a torcida - relembrou Sávio, que conquistou três Ligas dos Campeões pelo Real, que, coincidentemente, não fatura essa competição desde a saída do ex-jogador brasileiro.
Fla-Madrid x Vasco
Mesmo sendo jogador do Real Madrid, a ligação com o Flamengo voltou à tona logo no fim de 1998. Tudo porque o Vasco, grande rival rubro-negro, seria o adversário do clube espanhol na decisão do Mundial Interclubes, no Japão. A presença de Sávio do lado contrário ao cruz-maltino fez com que os flamenguistas idealizassem uma pseudo-união com o Real Madrid. A torcida Fla-Madrid foi criada para secar os vascaínos.
Sávio conseguiu lidar bem com o papel de pivô dessa rivalidade e no fim das costas ajudou a fazer a alegria de seu "antigo povo" - sem qualquer tipo de provocação ao oponente -, já que o Real Madrid venceu por 2 a 1 (recorde no vídeo abaixo) e o Flamengo se manteve como único clube do Rio de Janeiro a ser campeão do mundo:

- A Fla-Madrid foi uma manifestação espirituosa, que tem que ser levada numa boa. Partiu da rivalidade que existe entre Flamengo e Vasco e eu ainda era um ingrediente a mais para essa rivalidade pela identificação que tenho com o Flamengo. Tinha o sonho de ganhar o Mundial de Clubes e consegui justamente contra o Vasco. Ótimo para um flamenguista.
A sequência na Europa contou com passagens por Bordeaux (França) e RealZaragoza (Espanha). No clube francês, o sonho do título nacional foi atrapalhado pelo brasileiro Sonny Anderson, que marcou um gol decisivo para o Lyon (1 a 0) quando o Bordeaux ainda brigava pelas primeiras colocações. Pelo modesto clube espanhol, Sávio fez história ao lado do atacante David Villa. Em três temporadas, eles conquistaram uma Copa do Rei na casa do Real Madrid e uma Supercopa, diante do Valencia. Neste último título, o brasileiro deu volta olímpica sozinho e foi reverenciado de pé pelos torcedores.
Retorno à Gávea
Nem mesmo o excelente momento que vivia no Zaragoza fez Sávio deixar para trás o sonho de retornar ao Flamengo. A oportunidade foi dada na metade de 2006, e a decisão sobre a volta foi imediata. No entanto, as metas traçadas não foram alcançadas e, de certa forma, houve frustração de ambas as partes neste capítulo de uma relação tão estreita.
- Eu fui bem na maioria daqueles dez jogos que fiz. Mas faltaram os gols. O fato de não sair o meu gol incomodava mais a mim do que aos torcedores. Mandei uma bola no travessão no Fla-Flu, mas ela não entrava. Isso me deixou um pouco frustrado, pois voltei ao clube com 95 gols e queria chegar aos 100. Mas não deu. Aí tive uma contusão no púbis e várias coisas externas atrapalharam. Recebi apenas um dos seis meses e não tinha resposta quando cobrava. Eu rescindi com o Zaragoza para voltar ao Flamengo. Mas tive que sair também porque não via muita vontade dos dirigentes para que eu continuasse - explicou.
Ao deixar a Gávea de maneira conturbada, Sávio aceitou o desafio de tentar tirar o tradicionalReal Sociedad da zona do rebaixamento na Liga Espanhola. A missão não foi cumprida por pouco. Mas valeu pela gratidão demonstrada pelos companheiros e torcedores. Depois disso, o brasileiro ainda passou por Levante (Espanha), Desportiva e Anorthosis (Chipre) antes de chegar ao Avaí, seu último clube na carreira.
A sequência na Europa contou com passagens por Bordeaux (França) e RealZaragoza (Espanha). No clube francês, o sonho do título nacional foi atrapalhado pelo brasileiro Sonny Anderson, que marcou um gol decisivo para o Lyon (1 a 0) quando o Bordeaux ainda brigava pelas primeiras colocações. Pelo modesto clube espanhol, Sávio fez história ao lado do atacante David Villa. Em três temporadas, eles conquistaram uma Copa do Rei na casa do Real Madrid e uma Supercopa, diante do Valencia. Neste último título, o brasileiro deu volta olímpica sozinho e foi reverenciado de pé pelos torcedores.
Retorno à Gávea
Nem mesmo o excelente momento que vivia no Zaragoza fez Sávio deixar para trás o sonho de retornar ao Flamengo. A oportunidade foi dada na metade de 2006, e a decisão sobre a volta foi imediata. No entanto, as metas traçadas não foram alcançadas e, de certa forma, houve frustração de ambas as partes neste capítulo de uma relação tão estreita.
- Eu fui bem na maioria daqueles dez jogos que fiz. Mas faltaram os gols. O fato de não sair o meu gol incomodava mais a mim do que aos torcedores. Mandei uma bola no travessão no Fla-Flu, mas ela não entrava. Isso me deixou um pouco frustrado, pois voltei ao clube com 95 gols e queria chegar aos 100. Mas não deu. Aí tive uma contusão no púbis e várias coisas externas atrapalharam. Recebi apenas um dos seis meses e não tinha resposta quando cobrava. Eu rescindi com o Zaragoza para voltar ao Flamengo. Mas tive que sair também porque não via muita vontade dos dirigentes para que eu continuasse - explicou.
Ao deixar a Gávea de maneira conturbada, Sávio aceitou o desafio de tentar tirar o tradicionalReal Sociedad da zona do rebaixamento na Liga Espanhola. A missão não foi cumprida por pouco. Mas valeu pela gratidão demonstrada pelos companheiros e torcedores. Depois disso, o brasileiro ainda passou por Levante (Espanha), Desportiva e Anorthosis (Chipre) antes de chegar ao Avaí, seu último clube na carreira.

Ao olhar para trás e ver tudo que fez como jogador, Sávio relembrou algumas de suas melhores atuações com a camisa 10 do Flamengo, a mesma usada por Zico, de quem o Anjo Louro é fã declarado.
- Contra aquele timaço do Palmeiras, em 1994, fiz dois gols e vencemos por 2 a 0. Teve a Copa do Brasil de 1995, quando enfrentamos o Grêmio e fiz o gol mais bonito da minha carreira. Lembro também da final da Copa Ouro, de 1996, em Manaus, em que fiz os três gols do título diante do São Paulo. Além desses, joguei muito bem na vitória por 3 a 0 sobre o Sport, em 1994 (veja o vídeo acima) - no único jogo que minha mãe viu na vida dentro de um estádio -, e contra o Vasco, no Carioca de 1995. Consegui fazer com que o experiente Ricardo Rocha fosse expulso antes de dez minutos de jogo e vencemos por 4 a 2 - disse Sávio, que garantiu que jamais defenderia o arquirrival do Rubro-Negro:
- Eu era Zico. Depois, passei a ser Flamengo. O Vasco poderia me oferecer tudo que eu não jogaria lá. Sem desrespeitar o clube. Mas isso é em respeito a mim e à torcida do Flamengo. Nunca me imaginaria no Maracanã pelo Vasco contra o Flamengo.
- Contra aquele timaço do Palmeiras, em 1994, fiz dois gols e vencemos por 2 a 0. Teve a Copa do Brasil de 1995, quando enfrentamos o Grêmio e fiz o gol mais bonito da minha carreira. Lembro também da final da Copa Ouro, de 1996, em Manaus, em que fiz os três gols do título diante do São Paulo. Além desses, joguei muito bem na vitória por 3 a 0 sobre o Sport, em 1994 (veja o vídeo acima) - no único jogo que minha mãe viu na vida dentro de um estádio -, e contra o Vasco, no Carioca de 1995. Consegui fazer com que o experiente Ricardo Rocha fosse expulso antes de dez minutos de jogo e vencemos por 4 a 2 - disse Sávio, que garantiu que jamais defenderia o arquirrival do Rubro-Negro:
- Eu era Zico. Depois, passei a ser Flamengo. O Vasco poderia me oferecer tudo que eu não jogaria lá. Sem desrespeitar o clube. Mas isso é em respeito a mim e à torcida do Flamengo. Nunca me imaginaria no Maracanã pelo Vasco contra o Flamengo.