segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

NO ADEUS, GOSTARIA DE CHORAR POR RONALDO DE NOVO

Em toda a minha vida, chorei apenas três vezes por causa do futebol. Uma em 1983, ainda menino, quando meu pai disse que o Zico tinha deixado o Flamengo. A outra em 1991, quando o Boca detonou o Flamengo com 30 minutos de jogo na Libertadores, desfazendo minha esperança como quem destrói um castelo de cartas. E a última no dia 30 de junho de 2002. O motivo: Ronaldo.
Olhando pela televisão a final da Copa do Mundo, enquanto na minha casa uma festa se iniciava na manhã daquele domingo, eu caí em lágrimas ao ver Ronaldo chorando no ombro de Rodrigo Paiva após ser substituído do jogo contra a Alemanha. Embora eu nunca tenha estado perto dele, naquele momento eu me senti o pai ou um filho de Ronaldo. Naquele instante passou na minha cabeça o filme que com certeza estava passando na cabeça de Ronaldo. Apenas 26 meses após ver seu joelho se espatifar, ao vivo, para o mundo todo, o Fenômeno concluía uma das maiores voltas por cima da história da humanidade, como artilheiro, campeão e sendo decisivo no torneio que todos sonham em jogar.
E o dia em que Ronaldo dirá adeus chegou. Será nesta segunda-feira, dia 14 de fevereiro de 2011. Uma segunda-feira em que todas as bolas do mundo, se pudessem, se pintariam de preto. Sinal de luto. Um dia em que um gênio do futebol vai se curvar, de pé, mas vai se curvar, ao inimigo mais poderoso dos esportes: o tempo.
Todos sabíamos que esse dia chegaria. Há pelo menos três anos estávamos, consciente ou inconscientemente, nos enganando, fazendo parecer que ainda faltava muito para chegar, quando, no fundo da alma, tínhamos certeza de que poderia ser a qualquer momento. Como será, nesta segunda-feira, dia 14 de fevereiro de 2011.
Ao contrário de muitos, eu considero que “saber parar” é parar quando o sacrifício diário não vale mais a pena. Não condeno, em nenhum segundo, Michael Jordan ou Michael Schumacher terem voltado a competir após terem parado. Muito pelo contrário. Agradeço a eles e a tantos outros gênios. Entre eles, Ronaldo, que após aquela lesão escabrosa sofrida no Estádio Olímpico de Roma, no jogo Lazio x Inter, em 2000, poderia ter pensado que todo o sacrifício não valeria a pena e ter parado. E quanta coisa o Planeta Futebol teria perdido!
Por isso, acho que esse é o momento ideal para Ronaldo parar. Quando ele decidiu parar. Que a bola e/ou o corpo dele não obedecia (m) mais as suas ordens, estava nítido há algum tempo. Embora eu tenha ficado com um gosto amargo na boca ao ver a atuação do Fenômeno no Maracanã, no jogo de ida das oitavas-de-final da Libertadores de 2010, contra o Flamengo, tenho o sentimento real de que esses dois anos de Corinthians e de futebol brasileiro foram sensacionais. Simples assim.
Tenho ojeriza toda vez que percebo que alguém vai dizer a frase “eu não tenho que provar nada a ninguém”. Eu nunca disse isso e tenho uma promessa feita a mim mesmo de nunca dizê-la. São poucas as pessoas no mundo que têm condição de pronunciar essa sentença. E Ronaldo é uma delas. Ele pode sim dizer que não precisa provar mais nada a ninguém.
Ao contrário do que muitos possam pensar, Ronaldo não construiu sua história querendo provar coisas a alguém. Nem que o Flamengo errou ao não bancar sua passagem de Bento Ribeiro (subúrbio do Rio) à Gávea, zona sul da cidade, que ele não era o “vilão” da Copa de 1998, que não era um mercenário, que ainda tinha espaço em grandes times, que não era só marketing (uma das maiores imbecilidades que já ouvi!) que ainda poderia “bagunçar” o futebol brasileiro (como fez no primeiro semestre de 2009). Tudo que Ronaldo fez foi por amor. Amor ao futebol, como escreveu há alguns dias no Twitter e pouquíssima gente entendeu… E amar o que faz é o primeiro requisito para ser um gênio. Ronaldo é um.
Desde que virei jornalista, perdi um pouco a capacidade de me emocionar com o futebol. Ter a obrigação de sempre olhar o fato com uma visão crítica te deixa assim. Tomara que eu esteja errado, mas hoje tenho a impressão de que o futebol não me fará chorar de novo. E se o meu choro ao ver Ronaldo chorando em 2002 for o último motivado pelo futebol, terá valido muito a pena. Boa sorte Fenômeno!